sábado, 10 de março de 2018

De raios, trovões e relâmpagos: os sons e as cores da manifestação interdimensional da Natureza


Estamos em pleno período das águas e, esse ano, a chuva tem ofertado um espetáculo à parte no verão do cerrado no Planalto Central: o aumento da incidência de trovões, trovoadas, relâmpagos e raios, numa espécie de balé mágico a transformar o horizonte expandido do planalto.

Tivemos um longo período de estiagem, no qual nossas reservas hídricas ficaram comprometidas (umas chegando a 12% da capacidade), ora pela escassez de água no subsolo, ora pela ignorância e insistência humanas em não modificar hábitos básicos para o consumo consciente e comunitário: nossa característica reptiliana predatória mostrou-nos, enfim, pela primeira vez na História da Capital, ser possível se pensar no extermínio da raça humana pela privação

Mas transcendendo a isso, a chegada da chuva trouxe alento a todos nós por aqui: o verde logo voltou a brilhar, as reservas voltaram a subir. Brasília voltou a ser um vasto rio verde despontando no meio do país como uma abóboda na promessa de fartura.

As águas voltaram a sorrir por aqui!

Muita chuva, muitos trovões, muitos raios, muito vento. Quedas de obras, viadutos, mostrando a matéria que não resiste ao etéreo plasmado na confluência desses elementos (ar, água, fogo e terra).

Mais afastada da cidade e de tais contingências, daqui onde moro - uma espécie de serra, incrustada em um vale - posso apreciar outra configuração desse espetáculo implacável: por trás da serra, de súbito, com a força magistral e reinante da Natureza que mostra seu poder, posso ver os clarões que subitamente se lançam nesse horizonte. 


O som retumbante e forte dos trovões tem coroado o romper dos relâmpagos a colorir o horizonte com suas centelhas elétricas, ao mesmo tempo em que o céu, acinzentado pelas densas nuvens carregadas com a benção das águas, anuncia a abertura dos portais para limpezas sem precedentes.

Esse cenário torna tudo ainda mais pitoresco e telúrico: o romper das luzes por detrás das montanhas na serra. Clarões se revezam com o estridente brado dos trovões, na onda mecânica que sempre fica atrás da luz, sempre mais rápida do que todo o resto...

Observando como se formam os raios podemos perceber a beleza na harmonização feita pelo composé da Natureza a envolver vários elementos - ora herméticos, ora conhecidos - na orquestração dos raios e dos trovões.

Para que esse fenômeno aconteça é necessária a composição de três elementos: gotas de chuva, cristais de gelo, água em estado quase congelado e granizo, tudo submetido à faixa de temperatura entre 0 e -50 graus, por volta de 2 a 10 quilômetros de altitude, condição barométrica ideal para a deflagração de raios (pressão).

O chacoalhar do movimento entrópico - ou seja, alta energia cinética, caracterizada pela movimentação de tais partículas  - causa a colisão entre entre eles, tornando-os positivos e negativos. 

A diferença de densidade e a força gravitacional faz com que alguns fiquem mais baixos e outros mais altos, de modo que esse continuum acaba transformando o ambiente numa grande pilha alcalina, apta a fornecer energia na modalidade elétrica.

Fiat lux!

Diante de tal variedade, podemos dizer que a chuva seguida por raios e trovões, engloba um bailado dos 4 elementos reunidos em perspectivas herméticas. Isso quer dizer que existe um significado oculto, para além da obviedade dos olhos da Física (o que tentei compartilhar acima), imperceptível para quem não exercita a pineal. 

Água purificadora, império do emocional, do lúdico criativo, templo onírico em que se assentam nossa inspiração e nosso inconsciente. Manifestação latente do que está desenhado no mundo além da tridimensionalidade. Solvente universal, de conteúdo alquímico transformador e, sobretudo, purificador. A água limpa e purifica tudo ao seu redor. 

Granizo e cristais de gelo, eis a novidade. Isso porque nosso primeiro impulso tridimensional é ver, logo de cara, a presença do elemento água apenas. Mas aqui temos a forte e marcante presença da Terra, na petrificação do estado líquido. Na verdade, uma composição entre características predominantes de cada elemento. 

A Água limpa e purifica e a Terra mantém, consolida, preserva e conserva. Silencia para preservar, abrindo os canais meditativos, ao mesmo tempo em que invoca a densidade do concreto e material. 


O Ar move, sopra e movimenta, transpondo tempo e espaço e ligando ao mundo transcendente das deidades e dos arquétipos que reverenciamos em nossas particulares sendas. 

Ao final, o lampejo ígneo que origina a  faísca e a perda térmica nos remete ao Fogo, princípio criador, transmutador e realizador do que é plasmado de nossa consciência para o plano causal-material. 

Água, Terra, Ar e Fogo estão, pois, unidos na formulação das torrentes, imprimindo nas chuvas, nos raios e trovões descomunal força telúrica e, ao mesmo tempo, etérea, razão pela qual seu significado oculto nos impele a perceber nesse cenário um verdadeiro acelerador de partículas, muito antes de qualquer tentativa de reprodução científica ter se arvorado em monopolizar o conhecimento. 

A Natureza, Gaia, Deméter, Rhea, Anu, Dana ou qualquer outra denominação deídica que se dê para esse lindo palco em que extravasa a Physys, constitui um dos mais perfeitos sistemas mágicos, acessível a quem se debruça em busca se sensibilizar para o significado hermeticamente encoberto. 

Está quanticamente disponível e indisponível, numa perspectiva dual que nos convida a penetrar nos abscônditos segredos de nossa própria consciência. Afinal, magia é EMOÇÃO, CONHECIMENTO e NECESSIDADE

Emoção como vetor da potência a lançar a faísca da conexão (aquele arrepio que sentimos quando acessamos outras realidades e frequências). Conhecimento porque precisamos NOS CONHECER em nossas limitações, bem como travar contato com o Universo. 

Caso contrário, a ignorância nos leva, tal qual uma criança a colocar o dedo em uma tomada, a consequências que podem ser danosas para nossas almas. 

É comum o discurso dogmático (mas aparentemente livre e descompromissado) sobre a desnecessidade de se penetrar no conhecimento, mas creio ser uma simplificação temerária, porque a ignorância pode levar a equívocos em relação a nós mesmos, reproduzindo padrões e estados de alma que nos colocam, ao final, a patinar em nossas existências.  Afinal, até mesmo para ser simples e morar no mato precisamos saber que frutinhas comer: caso contrário nos envenenamos, como no filme Na Natureza Selvagem

Conhecimento é relevante: para isso tivemos constantes mutações genéticas, o gene FOXP2 (associado à linguagem e cognição) desenvolveu-se rapidamente em nossa hélice de DNA, eis a razão pela qual somos brindados e agraciados com uma possibilidade ímpar de mudança. Se isso está presente em nossas entranhas, não usá-la é atrofiar nossa capacidade de amadurecimento. 

Se usamos o conhecimento para destruição, isso nada tem a ver com o conhecimento, mas com nossa ignorância e decadência moral. Assim, saber mais sobre o que está disponível no mundo etéreo é condição de ascensão moral e espiritual. Respeito muito quem pensa de outra forma, mas, para mim, conhecimento só trouxe LIBERTAÇÃO, e não aprisionamento. 

Não saber, não pensar, não sentir e não vivenciar a magia no aqui e no agora, sob a desculpa de ser desconfortável é uma forma bem velada de cegueira e conformismo. E a Natureza, bem como o Universo, pautam-se na MUDANÇA, no inconformismo, portanto. Saber equalizar isso é tarefa que cabe a cada qual. 

Lidemos, portanto, com isso, ao invés de imputar responsabilidade na complexidade do conhecimento, para ver numa ilusória simplicidade a tábua de salvação de nossa ignorância. Ela, ao contrário, faz com que chafurdemos, sendo facilmente alojados como massa de manobra e gado nas mãos de quem detém conhecimento...

Por fim, necessidade, que nada tem a ver com privações e desejos momentâneos (carro, dinheiro e, usualmente, bens materiais), mas, antes, com a percepção do que nossa ALMA demanda para crescer. Vejo em rede muita gente querendo rituais de prosperidade, fartura, ganho pessoal e outras coisas que se assemelhem a isso. 

Tudo relacionado à mantença na tridimensionalidade, quando estamos momentaneamente nela. Ou, então, no reverso, outras tantas fugindo da responsabilidade que advém com a prosperidade que jogam pela janela, quase sempre diante do discurso místico do desapego, confundido com fuga da vida. Seja num ou em outro, a lógica é a mesma: ignorância na compreensão do sentido sobre para que tudo que está disponível na dádiva de Gaia...

Por isso, concluindo, dias de trovoadas, chuvas e relâmpagos são momentos que nos envolvem na magia. 

Quer seja porque a Natureza e as esferas superiores estão a travar suas próprias limpezas e trabalhos purificadores e depuradores, quer seja porque se trata de momentos em que a energia convergente é tão alta que podemos aproveitá-la para elaborar e plasmar ideias, desideratos, projetos, sonhos, planos. 

A força que deflui desses processos é descomunal, apta a liberar energia para colapsar nossos processos internos. Basta agregar internamente a sensação de se conectar ao ambiente em que esse fenômeno mágico se assenta. Um banho de chuva, um silenciar de alma. Tudo isso traz o estado de espírito propício para que as verdadeiras transformações se operem. E elas nada têm a ver com o sobrenatural: são estados naturais em que nos agregamos ao Todo inefável.

Céad mille fáilte!


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