domingo, 2 de outubro de 2016

Meus tesauros de felicidade: de carona na sustentabilidade, cada qual faz sua parte

Esses últimos meses tenho desacelerado: compreendido a necessidade de focar minhas prioridades, dentre as quais, o retorno gradativo à alimentação saudável, orgânica e fresquinha, necessária para a sensação de pertencimento à Gaia e aos benefícios que ela nos traz. Perto daqui de casa tem a Feira do Produtor, onde todo sábado uma comunhão de pessoas se forma em torno desse bem comum: natureza.

Lá é um espaço bem democrático, com todos os credos, todas as tribos e as pessoas mais diversificadas e lindas que em um lugar podemos encontrar. Sacolas recicláveis, sandálias de tecido, brincos, piercings, alargadores. Tudo em um lugar só, coexistindo com as famílias em seus carros importados, celulares caros. 

Que legal! 

Independentemente de qualquer estereótipo, observar o fluxo dessas pessoas em relação à consciência sobre alimentação traz um baita alento. Quer seja na senhora japonesa que vende sushi fresquinho, ou na banca de caldo-de-cana gelado, ou, ainda, na senhora do leite na garrafa pet - que faz um queijo para lá de fresco e de delicioso - tudo exala o frescor de uma vida alternativa ao sistema que tenta sucatear nossas almas.

Sim, existe um contra-fluxo! 

Uma contra-cultura alternativa, a motivar quem tem sensibilidade suficiente para perceber que o mundo está demandando uma conscientização coletiva, sob pena de simplesmente explodir de tanto consumo desenfreado e predatório. E ela começa aqui, dentro da gente!

Nessa vibração, certas revoluções são silenciosas, partem de um movimento interno de incômodo com a situação, ou, ainda, da simples necessidade de se reformular a alma. 

Trocar de pele é necessário para se manter a troca de oxigênio e conexão com a Natureza. 

Nesse sentido, a adoção de boas práticas de sustentabilidade e de desaceleração é algo cada vez mais premente em nossas vidas, pois mudar o padrão vibracional passa muito mais por se reconhecer protagonista da própria história do que baluarte de movimentos coletivos.

Ultimamente tenho feito uma senda de desapego, que veio como uma leve brisa, sem pressão, incômodo ou sofrimento. Já tentei o caminho à  fórceps, que utiliza a racionalidade do convencimento, mas confesso não ter dado certo. 

Descobri, então, que a revolução silenciosa da alma se faz pelo caminho do coração, por intermédio da empatia com a qual podemos nos enxergar no outro e, no caso, na Natureza que tanto nos dá: só assim conseguimos amar este planeta o bastante para transmutá-lo em prol de sua sobrevivência (e da nossa, claro!)

Estou sem sky em casa, não vejo mais os programas de tv por assinatura. Quebrei o controle  (desconfio que foi ato inconsciente para me desapegar mesmo) e estou esperando chegar outro que perdi de vista. Bom, bom, bom demais. Um dia ele chegará. Mas, até lá, tenho me observado mais, recolhido mais. 

Sem distrações para me desviar, assisto a filmes na internet, leio, interajo com o povo daqui. Tenho cuidado melhor da alimentação (hoje mesmo comemos uma bacia de salada e maionese caseira, algo que nunca imaginei conseguir fazer). 

Plenitude, eis o sentido.

Fiquei e estou sem carro: meu jipe ficou sem freio, eu e meu namorado protagonizamos uma cena de Flinstones e até minha coluna se contorceu, o bastante para me mostrar, em mais um processo de somatização, que preciso me despojar, ainda mais, das cobranças internas. Da vida de tensão que levo no dia-a-dia. 

Coluna se recompondo, tenho andado muito de ônibus e até encontrei alguns alunos, que se assustaram em ver a professora de baú. Cada viagem é realmente uma viagem, pois observo atentamente as pessoas ao redor, envolvo-me com a vida que está aí, pulsando.

Cheguei a marejar lágrimas nos olhos com a simples despedida do meu namorado na rodoviária. Momento inesquecível de despojamento de tudo. Não havia conforto ou segurança que compensasse o aperto no coração de um "até logo" em um terminal lotado. isso é divino e belo! É a síntese da percepção do quanto somos queridas e amadas, o bastante para o sacrifício de outrem por nossa felicidade...

Realizo-me na simplicidade de um movimento esquecido na contemporaneidade, tão ocupada com facebook, whatsapp e redes sociais. 

Passei a observar mais o que, de súbito, dentro de um carro, não consigo, ainda que dirija um jipe, de onde é possível imergir no horizonte sem fim... As cores, as flores, a vida: tudo passa, como em uma estação de metrô, átimos de segundo que ficaram para trás, mas que trazem do desejo, cada vez maior, de simplesmente deixar tudo de pesado, de desconfortável e inútil, também para trás.

Quando não estou em um ônibus estou à pé: outra aventura. Fui a uma aula experimental gratuita de yoga perto de minha casa - não tão perto, uns 5 quilômetros. Peguei o baú de integração e desci na parada,  fazendo o restante do percurso - 1 quilômetro de estrada de chão - a pé. 

Essa foto aí ao lado é de lá. Caminho providencial, pois em cada passo, uma respiração, uma percepção sobre minha vida e o que realmente é necessário de bagagem nela. 

Cheguei a tempo...O tal do tempo que sempre marca as desculpas para nossos processos de sabotagem. mas, desta vez, levei a melhor e adivinhem? 

Não me sabotei! 

Andei com meu tapetinho surrado pelas unhadas dos gatinhos daqui de casa até encontrar o Empório da Mata, lugar lindo, maravilhoso, que me remete à primeira Festa Medieval que fui (a melhor e mais lúdica, com direito a trapezistas de fitas e tudo mais).

Aula boa, vento soprando e pássaros cantando em harmonia com a minha alma...Belo, pleno e vigorante! Presença da Natureza em cada ponto mais abscôndito da minha alma. O que está havendo comigo? Bem-aventurança, simples assim.

Como não amar o caramanchão com tsurus pendurados? O céu beijando as copas das árvores e a grama verdejante? Como não sentir nas entranhas a energia vital deste planeta a colorir o espírito com a suavidade do amor?

Eis a questão: sentimos... É necessário sentir para saber. Uma vez escutar de uma pessoa a seguinte frase: "para saber, tem que voar", lembrando-me dos desafios que um sistema consumista e predatório nos impõe. 

Nesses momentos de crise pandêmica, a potencialidade humana de resiliência sempre fala mais alto, acalentando-nos com a esperança de que tudo ficará melhor quando nossa alma está disposta a ser melhor.

Tenho desejado falar menos. Aliás, a irritabilidade com a falação dos outros só mostra minha agitação interna, bem como o desejo de pacificar minha alma da reverberação que eu mesma provoco com a tonelada de pensamentos que ora me fazem retornar para o passado, ora me impelem para a ansiedade de um futuro em relação ao qual não tenho o menor controle.

Tenho comido mais orgânicos e me desintoxicado com a culinária vegetariana e vegana. Tomado óleo de côco (também passo nas pontas do cabelo, nutrindo e hidratando), própolis e pólen, já exausta de organismos mortos que se veiculam a partir do paradigma alopático.

Dia desses fomos - turma de yoga - almoçar em um restaurante chamado Veg Gourmet, que fica no Brasília Rádio Center. Preço justo, executivo vegano de primeira linha, lindo, belo, nutritivo. Uma comida que dialoga conosco e nos remonta à felicidade trazida para o estômago.

Meu desafio, por agora, resume-se a comer mais devagar, a mastigar mais e melhor. Isso ajuda, creio, na paciência que me falta. Mas, pouco a pouco, ao esvaziar alguns quartos de despejo da minha vida, creio que irei naturalmente me desestressar. 

Aliás, a revolução silenciosa já começou, ainda que preparada por intensas discussões. Tenho procurado me desestressar com o que não faz parte do meu círculo de variáveis modificáveis. 

Passo até por alienada política, mas, de fato, estou contemplando os últimos dias de  Pompéia, tal qual uma atenta observadora prostrada no Monte Vesúvio, esperando o movimento planetário de mudanças somente perceptíveis para quem desistir de achar responsabilidade fora de si...

Tenho olhado até mesmo para o sistema com amorosidade. Sem ira, indignação, afinal, querendo, ou não, ainda sou grata a ele, com todos os defeitos. Assim como sou grata por minha existência, com todos os meus defeitos, como sou com outras pessoas. 

Apenas respirando. Acho que realmente precisamos respirar mais...

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