Como isso percebi que, aos poucos, seguir o caminho solitário sempre foi uma forma interessante de autoconhecimento, e, dentro dos recomeços, descobri que seguir também em duplo etéreo, por meio da escolha de um parceiro de estrada, é igualmente importante para a celebração dos ritos e dos cultos familiares.
Sempre fui partidária da ideia de respeito à casa religiosa das pessoas com quem me relaciono, mas, convenhamos, partilhar com a pessoa que se ama também essa - dentre outras afinidades - é algo que me soa como essencial, não só pelo cultivo das práticas, mas, também, pela troca de experiências que advém da abertura que o outro permite, ao celebrar conosco nossas liturgias e nossos ritos devocionais.
No domingo tive uma experiência fantástica, pois abri o selo sagrado dessa casa para meu companheiro, no firme propósito de, com ele, trilhar os caminhos que nunca permiti a outra pessoa percorrer. Selei o lar comum, abri o círculo e invoquei minhas ancestrais, aos olhares respeitosos e pacatos da minha alma afim. Como me senti realizada por, pela primeira vez em toda a minha vida, poder confiar o bastante em um ser que, de maneira despojada e respeitosa, desejou compartilhar o que existe de mais importante em minha vida: meu caminho na Arte.
Muito reservada em relação aos meus assuntos familiares e, sobretudo, à arte sacra do sagrado e do feminino, via sempre com desconfiança qualquer tentativa alheia de acessar um conhecimento que, grosso modo, guardo a sete chaves [a tantas quantas forem as chaves possíveis, por reconhecer que ainda vivemos em tempos de inquisição]. Não importa mais, porque o coração, quando está seguro e no conforto, mal algum mais teme. Limpa as arestas, acautela-se em relação ao que é colocado como possibilidade de perigo, mas, sobretudo, não entra em paranoia: vive apenas e, no viver, realiza-se!
Eis o mistério sagrado dos antigos...